Textos críticos/ Critical text
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Fernando Vilela fora do expediente

Tiago Mesquita

Centro Cultural São Paulo
São Paulo, 2003

Os trabalhos de Fernando Vilela, na linguagem que estiverem, trabalham suas formas com muita acuidade. Elas, mesmo que apareçam arranhadas ou esponjosas, são sempre inteiriças e bem contornadas. Devem mostrar distinção e nitidez de seu papel no conjunto. Aparecem, portanto, como um elemento forte, que atua na composição de maneira decidida e independente, como se pudessem ser separadas e, como coisas, pegas com a mão.

O curioso é que isso apareça em trabalhos tão interessados por objetos sólidos, maciços, feitos com engenho. Em suas gravuras, por exemplo, o artista se dedicou, muitas vezes a retratar cascos de navio, pedaços de edifício e guias da rua. Valia-se destes temas para relacionar faces planas e pouco sólidas, como se a criasse castelos de cartas.

Outros temas da produção gráfica de Vilela são os biombos, palafitas e tapumes de construção. Aí o artista encontra, de maneira mais transparente, objetos que colocam superfícies planas se relacionando e criando uma unidade coesa, que nos permitiria chamar aquela série de faces de uma coisa só. No entanto, o artista não trabalha com estes planos em busca de um ponto de convergência. Pelo contrário, nestas gravuras, as formas chapadas parecem fugir de sua função figurativa mais elementar e procura relações autônomas umas com as outras, extrapolando uma configuração prévia.

Nas suas esculturas, embora o artista lide com os volumes de maneira mais evidente, esta relação parece se radicalizar. Vilela incrusta chapas de metal e massas compactas de cimento. As cores diferentes, de cada um, sugerem contraste. Um material se mostra estranho ao outro, no entanto, tal distinção, paradoxalmente, aproxima, transformando tudo em planos inter relacionados. A ação do metal no concreto converte tudo em superfície. As faces do cubo de cimento são postas para atuar fora de expediente. Agora não são paredes de uma forma, mas planos autônomos que, livres de sua função original, buscam novas relações com as outras partes da escultura.

As peças que o artista mostra agora no CCSP tentam ampliar esta relação. Aí, este fracionamento das faces da escultura contamina o prédio, que passa a ser visto como uma série de partes fracionadas que também afastam de sua função primordial e aparece com novo sentido, ganhando versatilidade.

Deste modo, o cimento atua como uma continuidade mais saliente do espaço. Bem como as chapas de metal acompanham o desenho dos ferros da galeria do CCSP. Os materiais da escultura, bem como os elementos do prédio, esquecem-se de sua função. Nas esculturas eles se portam como se estivessem de folga. Em busca de qualidades que não aparecem durante a labuta.

 

 

 

 











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